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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ser mãe é o sonho de toda mulher, e comigo não foi diferente. Já estava no 8º mês de gestação, e devido a algumas complicações, não conseguiria chegar ao 9º mês.
Eu sempre fui bem gordinha, e durante a gravidez era imperceptível a mesma.
Fui para o hospital, para dar a luz. Mas devido a um descuido da atendente, minha ficha foi enviada pra outro setor, e ao invés de a cirurgiã realizar meu parto, ela realizou uma cirurgia de redução de estomago, o que causou a morte do meu bebê.
Hoje estou magérrima, porém, impossibilitada de ser mãe.
Fiz vários exames e já havia me internado para realizar cirurgia nas varizes, levei todos os documentos necessários e estava com um número de identificação no pulso. O que eu não imaginava era que o número estava errado.
Fui pra sala de cirurgias e voltei com muita dor na garganta, mas achei normal. Fui chamar a enfermeira e a voz não saía. Olhei o relatório da cirurgia, e devido ao número errado em meu pulso, retiraram minhas cordas vocais, pois o paciente titular daquele número estaria com câncer nas cordas vocais.
Resultado? Estou mudo para todo o sempre, amém.
Minhas palavras foram lançadas ao vento. Sim, hoje sou mudo e surdo. Mudo por um psicológico abalado; surdo a voz dessa sociedade cada vez mais desumana.
Enquanto retirava meu salário do mês em um caixa eletrônico, fui cercado por três covardes que levaram todo o meu sustento. No momento em que a arma encostou em minha cabeça, senti as palavras se evadindo do meu cérebro, e a última coisa que consegui dizer desesperadamente foi um: "-NAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAÃO."
Eles não levaram apenas meu dinheiro, levaram minha felicidade, meu sorriso, meu direito de comunicação.
Sou engenheiro, mas não posso sequer arquitetar minha voz diante de uma sociedade soberba na qual tenho a infelicidade de viver.